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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Ai, que saudades da União Soviética!



Líderes de partidos comunistas de 66 países se reuniram em São Paulo para discutir formas de voltar ao poder, fortalecendo-se a partir da crise no capitalismo

Encontro em São Paulo reuniu 75 partidos: a luta de classes de Marx e a antiga União Soviética ainda estão mais do que vivas para os camaradas.SÃO PAULO - Quase 20 anos após a queda do Muro de Berlim e sem o farol da União Soviética, um velho inimigo do capitalismo planeja sair das tumbas e liderar uma revolução do proletariado em todo o mundo: o movimento comunista internacional. Embalados pela crise que afetou os mercados mundiais e pela maré do populismo que vem crescendo consideravelmente na América Latina, dirigentes de 66 países se reuniram neste final de semana no Novo Hotel Jaraguá, em São Paulo, para traçar as estratégias que os levarão a dominar o mundo e fazer a redenção da classe trabalhadora.

Em plena era da globalização e numa quase caricatura do passado – quando organizavam greves e passeatas que chegavam a paralisar países, principalmente na Europa – os comunistas de hoje, alguns deles de cabelo grisalho e cavanhaque ao estilo Lênin, cabem numa sala fechada, mas garantem: não mudaram de lado.

Eles sentem saudades da União Soviética, extinta em 1991, e cuja ideologia foi praticamente massacrada pela força 'imperialista' dos Estados Unidos. E idolatram Cuba, Venezuela e Bolívia, governos de raízes revolucionárias.

O grupo ainda cultua a foice e o martelo – símbolo do proletariado industrial e do campesinato, respectivamente – Karl Marx, autor do "Manifesto Comunista", considerado a 'Bíblia do movimento'; Léon Trotski, líder da revolução na União Soviética, junto com Lênin; e, claro, a luta de classes, uma denominação de Marx e Friedrich (outro ideólogo do comunismo) que explica o conflito de interesses entre a burguesia e o proletariado.

Apesar de o conceito de proletariado ter mudado nos últimos anos, um dos partidos de esquerda mais representativos da Espanha, o Partido Comunista de los Pueblos de España (PCPE), é radical na defesa da bandeira histórica.

A sigla defende manifestações mundiais em duas datas: o 1º de maio (dia do trabalho) e 7 de novembro (início da Revolução Russa). "Faríamos uma reflexão sobre os homens que levaram à dissolvição de um governo que serviu à classe trabalhadora", declarou o secretário do partido, Quim Boix Lluch.

Outro órfão do regime soviético, Gustavo Iturralde, do Partido Comunista do Equador, lembrou que a tese "do fim da história" – lançada pelo cientista político Francis Fukuyama para explicar o triunfo do capitalismo, ainda que tardia –, foi uma "balela". "A foice e o martelo permanecem como força da classe operária. O fim da União Soviética foi um revés, que nunca acreditamos que seria definitivo", pregou o dirigente. "Hoje a história nos dá razão e cabe a nós resgatar a chama do comunismo", conclamou Iturralde, cujo partido não possui cadeira no parlamento espanhol.

O representante do Partido Comunista da Bolívia, Marcos Domich, acrescentou: não se considera mais a religião o "ópio do povo". Todavia, a herança marxista-leninista é eterna. "A luta de classes, defendida por Marx e Lênin, é o centro de nossa concepção política. Vamos até o fim com ela", declarou Domich.

Musa da esquerda brasileira, a deputada federal Manuela D'Ávila (PCdoB-RS), ressaltou: "o capitalismo mostrou a que veio". "Na hora da crise, quem paga a conta são trabalhadores", declarou a deputada ao enaltecer o modelo socialista para o mundo.

Única voz – Outros dois partidos europeus de muita força política até os anos 90, o Partido Comunista Francês (PCF) e o Partido dos Comunistas Italianos (PCI), amargam o ostracismo político. Agora, o PC francês, que teve o escritor Jean Paul Sartre (1905-1980) como simpatizante, aposta no agravamento da crise mundial para que o trabalhador europeu volte a apoiar os comunistas. "O comunismo é a única voz do trabalhador assalariado", sentenciou o representante do partido no Brasil, Jean-Pierre Penau.

O representante italiano, Andrea Genovali, reconheceu que a luta de classes, do ponto de vista histórico, ficou embaraçada. No caso da Itália, segundo Genovali, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, de direita, isolou a esquerda e, com isso, a força política que os camaradas representavam no passado desapareceu. "Antes da luta de classes, há uma guerra pela hegemonia da direita, que se dá na política e na cultura, que precisamos combater", declarou Genovali.

Sergio Kapustan


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