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sexta-feira, 12 de setembro de 2008

América do Sul vive momento de turbulência

Nem os EUA escaparam da crise, acusados de serem responsáveis de "orquestrar" distúrbios no continente, e tiveram seus embaixadores em La Paz e Caracas expulsos.

Choques em Santa Cruz de La Sierra.Os protestos contra o presidente Evo Morales revelaram que a crise não atinge só a Bolívia - ela envolve vários países da América Latina. Líderes do Mercosul se mobilizaram ontem para emitir "fortes apoios" a Morales: o Brasil e a Argentina se limitaram a medidas diplomáticas, mas, para a Venezuela, solidariedade significa ajuda armada.
Até os EUA não escaparam da crise, depois que foram acusados de serem responsáveis de "orquestrar" distúrbios no continente e tiveram seus embaixadores em La Paz e Caracas expulsos.

A situação na Bolívia preocupa os líderes da região e provocou, ao longo do dia de ontem, uma série de telefonemas entre Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Cristina Kirchner (Argentina), Hugo Chávez (Venezuela) e o próprio Evo Morales.

Os presidentes acertaram a distribuição de notas em repúdio aos ataques violentos ao governo de Morales, provocados pela oposição que reivindica maior autonomia.

O secretário especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, afirmou que "o Brasil não vai aceitar um golpe de Estado na Bolívia".

Indagado se a declaração significava apoio de tropas, Garcia respondeu: "Significa que o Brasil não reconhecerá nenhum intento de governo que queira substituir o governo constitucional da Bolívia."

Em Buenos Aires, o governo argentino emitiu uma nota de apoio ao presidente Morales, na qual classifica os confrontos na Bolívia como "graves fatos de violência e sabotagem terrorista, que produziram vítimas fatais, destruíram bens públicos e privados e afetaram gasodutos que abastecem países vizinhos".

A Argentina avalia o envio de uma missão diplomática que se juntaria ao ministro-interino das Relações Exteriores do Brasil, Samuel Pinheiro Guimarães, e ao Marco Aurélio Garcia, que viajaram ontem para La Paz. O objetivo é tentar encontrar uma solução negociada entre o governo de Evo Morales e a oposição.

Armas - No entanto, o líder venezuelano, Hugo Chávez, não descarta a possibilidade de oferecer apoio à resistência armada na Bolívia. "Se matarem Evo, acreditem os golpistas que estariam me dando luz verde para apoiar qualquer movimento armado na Bolívia", disse.

Chávez acusa os Estados Unidos e movimentos locais de oposição em países como Bolívia e Equador de orquestrar uma "ofensiva imperialista continental".

O próprio líder venezuelano ordenou a investigação de um suposto complô para assassiná-lo, depois que a televisão estatal levou ao ar gravações de supostos militares aposentados que estariam organizando um plano para tirá-lo do poder e até matá-lo. Novamente, Chávez acusou os EUA.

Expulsão - O mandatário da Venezuela ainda ordenou ontem que o embaixador dos EUA deixe o país, em um ato de solidariedade com a Bolívia, que expulsou no dia anterior o seu embaixador norte-americano. Em retaliação, os Estados Unidos ordenaram ontem a expulsão do embaixador da Bolívia em Washington.

Mais cedo, o Departamento de Estado norte-americano disse que Morales cometeu um "grave erro" e que prejudicou "seriamente" as relações bilaterais ao ordenar a expulsão do embaixador Philip Goldberg

Enquanto as relações com os EUA se deterioram, a parceria com a Rússia se aproxima. Dois bombardeiros estratégicos russos pousaram quarta-feira em uma base aérea na Venezuela, para participar de manobras militares conjuntas entre os dois países.

Brasiguaios - No Paraguai, os distúrbios também se agravaram depois que grupos sem-terra ocuparam e queimaram várias plantações de fazendeiros brasileiros, conhecidos como "brasiguaios". Armados com paus e pedras, os manifestantes pediam a expulsão dos produtores brasileiros. A polícia local conseguiu expulsar os manifestantes, mas isso não impediu que eles causassem prejuízo em 13 fazendas.
Diário do Comércio

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