ITALO NOGUEIRA
O comandante Militar da Amazônia, general Augusto Heleno, afirmou ontem que a política indigenista praticada atualmente no país é "lamentável, para não dizer caótica". Sem se referir especificamente à reserva Raposa/Serra do Sol, no norte de Roraima, o general criticou a separação de índios e não-índios.
A Polícia Federal preparou uma operação para retirar os não-indígenas da reserva. A ação foi suspensa por ordem do STF (Supremo Tribunal Federal).
"A política indigenista brasileira está completamente dissociada do processo histórico de colonização do nosso país. Precisa revista com urgência. (...) É só ir lá ver as comunidades indígenas para ver que essa política é lamentável, para não dizer caótica", disse Heleno durante palestra no Clube Militar, no centro do Rio.
"Pela primeira vez estamos escutando coisas que nunca escutamos na história do Brasil. Negócio de índio e não índio? No bairro da Liberdade, em São Paulo, vai ter japonês e não-japonês? Só entra quem é japonês? Como um brasileiro não pode entrar numa terra porque é uma terra indígena?", afirmou.
A reserva Raposa/Serra do Sol voltou a ser discutida após a PF se mobilizar para retirar os não-índios do local --a maioria arrozeiros com plantações no local. Ameaçados de remoção e algumas tribos indígenas são contrárias à ação da polícia. Argumentam que a área ocupada pelos arrozeiros é 1% do total da reserva, mas eles seriam responsáveis por 6% da economia do Estado.
O diretor da Sodiur (Sociedade de Defesa dos Indígenas Unidos do Norte de Roraima), o índio da etnia tuxaua Jonas Marcolinom, disse que a influência de ONGs estrangeiras na reserva podem "ameaçar a soberania nacional".
"Se não houver valores que nos una [índios e não-índios], alguns outros valores vão predominar, que podem ameaçar a soberania nacional", disse Marcolino ao concordar com general Heleno ao dizer que os índios devem se "conscientizar que é também brasileiro".
Fronteira
Durante a palestra, Heleno criticou documento da ONU que pede desmilitarização das terra indígenas para a "paz, progresso e desenvolvimento econômico social". "O entrave somos nós?", questionou Heleno. Ele afirmou que os índios "gravitam no entorno dos nossos pelotões porque estão completamente abandonados".
Antes de destacar a quantidade de terras indígenas na faixa de fronteira norte do país, o general Heleno afirmou que o país precisar "estar preparado para a guerra". "Há ameaça de conflitos armados, ainda que não sejam iminentes, mas que podem acontecer devido a um aumento inegável de tensão em algumas relações bilaterais".
Heleno citou 14 problemas diplomáticos na América do Sul que poderiam gerar uma guerra, metade deles no norte do continente, área onde reclama maior atuação nas fronteiras.
"Esse subcontinente extremamente pacífico, que não vai ter guerra nunca, é na verdade um continente que, como aconteceu um mês atrás, pode ter uma séria perturbação que pode rapidamente descambar para uma situação bélica".
Segundo ele, a melhor maneira de evitar uma ofensiva militar na Amazônia é com uma "presença militar fazendo crer que não vale a pena uma ação" na floresta.
O general Mário Matheus Madureira, ex-comandante da 1ª Brigada de Infantaria de Selva em Roraima, afirmou que a quantidade de terras indígenas e áreas de conservação atrapalha o desenvolvimento do Estado.
"Se somarem os 46% do Estado de terras indígenas com os 27% de unidades de conservação, verão que sobra muito pouco para que o Estado possa alavancar sua economia".
Fonte: Folha de São Paulo
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sexta-feira, 18 de abril de 2008
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