General Lessa, que mobilizou as atenções da platéia sobre a grandiosidade de Roraima.
Controlar a "invasão branca" de ONGs, principalmente estrangeiras, assegurar o controle da água e explorar ricas jazidas de minérios – grande parte em reservas indígenas e praticamente inacessíveis devido a legislação em vigor – e povoar as zonas de fronteira, para garantir a integridade do território nacional sem agredir o meio ambiente.
Esses foram os principais temas debatidos no seminário "A realidade da Amazônia – Soberania ameaçada, farsa?', realizado ontem, no clube Espéria. Segundo os participantes, o evento foi considerado um marco por mobilizar e entusiasmar setores da sociedade civil organizada em defesa da Amazônia e da soberania brasileira.
De acordo com o general Luiz Gonzaga S. Lessa, ex-comandante militar da região, de 5 milhões de quilômetros quadrados espalhados em nove estados, organizações e governos estrangeiros fazem campanha internacional aberta para retirar a Amazônia do controle brasileiro.
A população indígena é de cerca de 350 mil índios. As terras indígenas representam 12% do território brasileiro. Para ele, a política da Funai (Fundação Nacional do Índio) isolou os índios. "Há um imenso vazio demográfico que precisa ser explorado, mas não a todo custo", afirmou o militar, ao abrir o evento.
Em sua explanação, Lessa divulgou um estudo da ONG Contas Abertas, com base no Sistema Integrado de Administração Financeiras (Siafi), que mostra o vertiginoso aumento de organizações não-governamentais, entre 2001 a 2006, atuando dentro do País.
De 22 mil, em 2002, elas pularam para cerca de 260 mil em 2006. Em 2007, o número subiu para 276 mil e 100 mil trabalham na Amazônia. A população indígena é estimada em 350 mil índios, ou seja, há 3,5 índios para cada ONG . "Há uma verdadeira invasão branca na Amazônia sem ninguém dar um tiro sequer. Trata-se de um neo colonialismo que estamos aceitando voluntariamente", denunciou o general.
Riqueza natural – Ao defender a soberania nacional, Lessa afirmou que o Brasil detém hoje 20% da água doce da superfície do planeta e 80% dela encontra-se na bacia amazônica. "Fala-se que a próxima guerra mundial será pelo controle da água. Veja a sua importância estratégica mundial", chamou a atenção.
O general falou também sobre a polêmica em torno da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, na divisa do Brasil com a Venezuela, que possui 12 vezes o tamanho da cidade de São Paulo e inúmeras riquezas, como o urânio, abundante e inexplorado. "Roraima, que tem sua superfície ocupada por reservas indígenas em quase 50%, representa o grande embate internacional contra o Brasil", afirmou.
Políticas públicas – Em sua fala, o líder dos índios macuxis, Jonas de Souza Marcolino, da Raposa Serra do Sol, responsabilizou a Funai, entidades religiosas e ONGs de isolarem os povos indígenas.
"Muitas ONGs têm influência negativa sobre a massa indígena", contou o índio, sob forte aplauso. "O que ocorre em Roraima é uma destruição de nossos valores nacionais. O estado expulsa os brasileiros e deixa lá os estrangeiros".
"Muitas ONGs têm influência negativa sobre a massa indígena", contou o índio, sob forte aplauso. "O que ocorre em Roraima é uma destruição de nossos valores nacionais. O estado expulsa os brasileiros e deixa lá os estrangeiros".
Zona de Fronteira – Terceiro orador a falar, o deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP) afirmou que a demarcação de reservas em zona fronteiriça representa um risco à segurança nacional.
Durante o seminário, foram citados três focos de guerrilha das FARC, na divisa do Brasil com a Colômbia, e sua aliança com o narcotráfico. "A edificação de vilas e cidades é uma forma racional de ocupação de nossas fronteiras, que estão abandonadas", afirmou.
Durante o seminário, foram citados três focos de guerrilha das FARC, na divisa do Brasil com a Colômbia, e sua aliança com o narcotráfico. "A edificação de vilas e cidades é uma forma racional de ocupação de nossas fronteiras, que estão abandonadas", afirmou.
Lição imprópria – Último palestrante, o professor Denis Rosenfield, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e articulista do Diário do Comércio, disse que a comunidade internacional, principalmente européia, não tem o direito de cobrar o Brasil. Segundo Rosenfield, a Europa conservou só 0,3% de suas florestas nativas. "Querem nos ensinar a lição, quando eles é que devem aprender".
O prefeito de Paracaima (RO) e líder da Associação de Arrozeiros da reserva Raposo Serra do Sol, Paulo César Quartiero, que chegou a ser preso pela Polícia Federal, acusado de porte ilegal de explosivos e formação de quadrilha, também defendeu a soberania. "Está na hora de termos um plano de desenvolvimento da Amazônia que dê oportunidades a todos e proteja nossa fronteiras", afirmou.
Aplausos para duas figuras históricas do Brasil
Duas figuras históricas que criaram a política indigenista no Brasil e trocaram correspondências em vida - Marechal Cândido Rondon (1865-1958) e Orlando Villas Bôas (1914-2002) - foram lembrados e saudados com aplausos pelos participantes do seminário "A realidade da Amazônia - soberania ameaçada, farsa?", realizado ontem, no clube Espéria, pelos serviços prestados ao País.
Autor do lema "Morrer se necessário for, matar nunca", Rondon fez as primeiras expedições às margens do rio Amazonas no início do século passado e criou o Serviço Nacional de Proteção aos Índios.
Autor do lema "Morrer se necessário for, matar nunca", Rondon fez as primeiras expedições às margens do rio Amazonas no início do século passado e criou o Serviço Nacional de Proteção aos Índios.
A importância de Villas Bôas foi ilustrada com a exibição do vídeo – de grande sucesso na internet – em que ele antecipa a polêmica sobre a devastação da Amazônia e o conflito entre agricultores e a Polícia Federal, na reserva indígena Raposa Serra do Sol, à noroeste de Roraima, na fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana.
O vídeo de um minutos e 17 segundos foi retirado de uma entrevista ao programa "Expedições", gravado em 2000 e exibido na íntegra em 2003.
Villas Bôas denunciou a fundação do Estado Ianomâmi naquela região. O indigenista explicou, então, com grande preocupação, que as maiores reservas de urânio do País – principal fonte de energia para usinas nucleares – localizavam-se naquele estado e dentro da reserva Ianomâmi.
"Nós já sabemos de fonte muito boa que dez ou 15 ianomâmis estão na América (Estados Unidos) aprendendo inglês e política", revelou Villas Bôas na entrevista ao afirmar que a criação do território indígena teria o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU).
O vídeo de um minutos e 17 segundos foi retirado de uma entrevista ao programa "Expedições", gravado em 2000 e exibido na íntegra em 2003.
Villas Bôas denunciou a fundação do Estado Ianomâmi naquela região. O indigenista explicou, então, com grande preocupação, que as maiores reservas de urânio do País – principal fonte de energia para usinas nucleares – localizavam-se naquele estado e dentro da reserva Ianomâmi.
"Nós já sabemos de fonte muito boa que dez ou 15 ianomâmis estão na América (Estados Unidos) aprendendo inglês e política", revelou Villas Bôas na entrevista ao afirmar que a criação do território indígena teria o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU).
A mulher de Villas Bôas, Marina, e o segundo filho, Noel, estiveram presentes ao debate. Noel cuida da preservação do acervo do pai. Dona Marina, viúva de Orlando, assistia atenta, mas preferiu não se pronunciar sobre o tema. Os dois deixaram o evento bastante emocionados.
Sergio Kapustan
Com a palavra, o nosso príncipe
Príncipe Bertrand de Orleans e Bragança, herdeiro do Trono Imperial.Sua alteza, o príncipe Bertrand de Orleans e Bragança, herdeiro do Trono Imperial do Brasil, também é um defensor convicto da Amazônia, como parte indivisível do Brasil. "A unidade nacional é um dos maiores legados de Dom João VI", disse ontem, durante seminário "A realidade da Amazônia".
Não fosse por Dom João, argumentou o príncipe, o Brasil seria hoje um aglomerado de "republiquetas". Por isso, ele não transige na questão da territorialidade. "Se fizermos qualquer concessão poderá acontecer com o Brasil, o que aconteceu com a Namibia", na África.
O príncipe dom Orleans está convencido de que não se pode abrir espaço para pensar os índios como nações. Por outro lado, ele destaca que "não temos o direito de mantê-los em jardins zoológicos humanos com uma cultura do tempo da pedra lascada". O príncipe garante que os índios querem sim os benefícios do progresso material da nossa civilização. "Eles são os primeiros a desejar isso, pois são nossos irmãos", defende. Por isso, sua alteza concluiu que devemos levar aos índios a fé cristã e a medicina, para por fim das enfermidades e sofrimentos nas aldeias.
Sergio Leopoldo Rodrigues
Sergio Leopoldo Rodrigues
Na Contra Mão
Marina volta a defender a demarcação da Raposa Serra do Sol
A ex-ministra do Meio Ambiente, a senadora Marina Silva (PT-AC), defendeu ontem a manutenção da área da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol. Segundo ela, o Brasil está diante de uma interpelação étnica sobre qual postura adotar em relação aos povos indígenas. "O nosso futuro deve comportar civilizadamente a possibilidade de que esses povos possam se reproduzir de acordo com suas condições sociais e materiais."Marina afirmou ainda, durante discurso feito na audiência do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que os arrozeiros têm a garantia legal de serem indenizados pelas terras. Por outro lado, não há como recuperar a herança cultural dos povos indígenas."Podemos plantar arroz em qualquer terra fértil. Agora, uma cultura que acha que o mundo foi criado a partir do Monte Roraima só existe ali."Segundo ela, em 500 anos de história, o Brasil dizimou um milhão de índios a cada século. Hoje, de acordo com a parlamentar, restariam um pouco mais de 500 mil índios espalhados por todo o País. "Nem o povo judeu sofreu genocídio dessa magnitude", comparou Marina.
A ex-ministra do Meio Ambiente, a senadora Marina Silva (PT-AC), defendeu ontem a manutenção da área da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol. Segundo ela, o Brasil está diante de uma interpelação étnica sobre qual postura adotar em relação aos povos indígenas. "O nosso futuro deve comportar civilizadamente a possibilidade de que esses povos possam se reproduzir de acordo com suas condições sociais e materiais."Marina afirmou ainda, durante discurso feito na audiência do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que os arrozeiros têm a garantia legal de serem indenizados pelas terras. Por outro lado, não há como recuperar a herança cultural dos povos indígenas."Podemos plantar arroz em qualquer terra fértil. Agora, uma cultura que acha que o mundo foi criado a partir do Monte Roraima só existe ali."Segundo ela, em 500 anos de história, o Brasil dizimou um milhão de índios a cada século. Hoje, de acordo com a parlamentar, restariam um pouco mais de 500 mil índios espalhados por todo o País. "Nem o povo judeu sofreu genocídio dessa magnitude", comparou Marina.
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